«Verdes no prato
O caso do bebé de 11 meses que morreu subnutrido chocou a França. Mas muitas crianças vegan crescem sem problemas.
Quando Louise morreu aos 11 meses, com 5,7 quilos, a França entrou em choque. O bebé estava a ser alimentado apenas a leite materno, sem que os pais – um casal de vegans – lhe tenham dado outro alimento às refeições. A história ocorreu em 2008 e, na semana passada, um tribunal condenou-os a cinco anos de prisão.
"Estamos a falar de pais negligentes, porque deveriam ter iniciado outros alimentos a partir dos quatro meses e aos seis deveriam ter introduzido as proteínas de origem vegetal", reage Gabriela Oliveira, vegetariana há 14 anos e autora do livro Alimentação Vegetariana para Bebés e Crianças.
Para Paulo Oom, pediatra que segue crianças vegetarianas, a mãe "cometeu um duplo erro": continuou a amamentar numa idade em que «as crianças necessitam de uma quantidade e de um tipo de nutrientes que nenhum leite fornece» e provavelmente "não estaria a tomar suplementos vitamínicos para suprir" as falhas da sua alimentação.
Oom explica que, no caso dos vegans – que não comem alimentos de origem animal, nem ovos ou leite –, as carências de vitaminas D e B12 devem ser colmatadas. A primeira é responsável "pelo crescimento dos ossos e dos dentes", enquanto a vitamina B12 "é fundamental para o sangue e o sistema nervoso".
Por isso, quando nas consultas recebe pais que pretendam impor um regime vegan aos filhos, o pediatra procura "demovê-los". E saliente que o ideal será "dar uma alimentação igual a todos os outros bebés e só mais tarde fazer as restrições".
Por seu lado, Gabriela Oliveira, mãe de três filhos que comem ovos, leite e queijo, defende que "há tantos alimentos vegan à venda, enriquecidos com vitamina B12 e ferro que é possível crescer-se sem qualquer risco para o desenvolvimento". E acrescenta que há à venda leite de soja adaptado a bebés.
Sobre Louise, que morreu subnutrida, diz que "é injusto colar essa morte ao vegetarianismo e ao 'veganismo'", até porque no seu caso a experiência com os filhos tem sido boa: "Os mais velhos são os mais altos da turma e têm sido saudáveis, sem otites, bronquiolites e essas doenças típicas da infância. Mas também têm constipações...".
As suas refeições incluem sempre um alimento proteico, como tofu, seitan, soja, ovos ou salsichas vegetarianas, além da fruta e dos legumes. Gabriela recorre de vez em quando às leguminosas, como o grão, o feijão e as lentilhas.
Para Paulo Oom, o peixe e a carne também devem ter lugar no prato: "Estão na roda dos alimentos e devem ser dados nas quantidades e proporções necessárias".»
Maria Francisca Seabra, Sol, 8 de Abril de 2011
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