«Histórias de terror / O medo que é para meninos
Daquelas que não têm bolinha vermelha e são adequadas para menores. Maria Espírito Santo conversou com o britânico Chris Priestley, autor de livros sombrios para pequenos leitores.
Antes que as coisas mais macabras e tenebrosas lhe passem pela cabeça, seguido de um "porque raio algum pai haveria de oferecer isto ao seu filho?", esclarecemos aqui o conceito de terror: algum suspense, descrições sombrias e pitadas de paranormal sim, comer o cérebro à moda de Hannibal Lecter, nem tanto. O britânico Chris Priestley já escreve para miúdos há uma década com a tonalidade escura que lhe é habitual, por isso sabe aquilo que faz. "As Histórias de Terror do Tio Montague" é o primeiro livro do autor a ser publicado em português. O início de uma trilogia de contos para tiritar. E não é de frio.
Edgar é uma criança e a personagem que nos conduz nesta história. É na caminhada até à casa sombria do tio Montague e durante os serões em casa dele que todo o terror acontece. Como se não bastasse viver numa mansão no meio da floresta, este tio tem todo o tipo de histórias para contar, enredos sinistros que ganham vida própria. "As Histórias de Terror do Navio Negro", que será publicado em Novembro, e "As Histórias de Terror da Entrada do Túnel" que sairá só para o ano, são os livros que seguem. Priestley passa a explicar: "Só é uma trilogia no sentido em que são três livros, com todo o tipo de histórias contadas por um narrador que também conta como as conhece. Todas seguem este formato mas não estão ligadas por personagens - apesar do tio Montague aparecer brevemente no segundo e terceiro livros."
Apesar de não ter tido nenhum tio sinistro de imaginação fértil, Priestley confessa que gostava de ouvir histórias tanto na escola como em família e outras que o pai contava sobre o tempo que serviu no exército. Os compêndios de pequenas histórias como o "House of Secrets" fora o primeiro passo na leitura de terror. Acabou a escrever o género de histórias que o entusiasmavam quando era mais novo: "Acho que és muito receptivo quando estás nos teus anos da adolescência. Tudo é novo e excitante. Na altura havia muitos programas de estilo sobrenatural na televisão britânica e gostava imenso". Alguns pesadelos pelo meio, nada de problemático garante o autor: "Considero-o um elogio. Adorava que os meus leitores entrassem nesse estado."
Apesar de Priestley ter sido sempre um contador de histórias, no seu sentido mais literal, começou como ilustrador antes de se aventurar na escrita. "The Times", "The Independent", "The Observer" ou "The Economist" foram algumas publicações com as quais colaborou. "Foi algo que me pagou as contas durante 20 anos", explica, adiantando um sonho de criança: "Escrever e ilustrar o meu próprio livro". Foi um colega do "The Economist" que encorajou Priestley a escrever um livro para crianças. Aí se dedicou por completo à escrita - apesar de continuar a desenhar, conta-nos. O negrume de que o autor se rodeia não o preocupa: "Não acho que seja muito misterioso. Mas sempre fui fascinado pelo gótico, o negro e o fantástico. Acho que as pessoas já nascem assim."
Um dia há-de aterrorizar também adultos, quando tiver uma ideia que "realmente resulte". Até lá, os pequenos são o principal alvo. Mas nem todos: "Não acho que devem ler - só se quiserem. Se gostares que te assustem então ler livros como os meus é divertido. Mas não são para toda a gente."»
Jornal i
Fazem-me lembrar um pouquinho os livros de banda desenhada que povoaram a minha infância: desenhos e palavras misturam-se para traduzirem uma história divertida.
Recomendado para quem se quer iniciar em leituras mais "sérias", mas que ainda não consegue fazê-lo, e também para quem, já o conseguindo fazer - como o filhote -, pretende passar uma tarde bem passada!»