sexta-feira, 20 de julho de 2007

Excerto:

Memórias de Idhún - A Hecatombe
Laura Gallego García


1.
«PEDRA E GELO

A magia não era suficiente.
Apercebera-se disso muitos dias antes, mas simplesmente não quisera acreditar. Por pura teimosia tinha seguido o seu caminho em direcção a norte, sempre para norte, mesmo quando não havia já feitiço térmico capaz de manter o seu corpo quente, mesmo tendo a sua montada caído sobre a neve há já vários dias, abatida pelo frio e pela inanição.
Mas ele tinha continuado a sua viagem a pé, a coxear. E agora sabia que estava muito perto: os conjuros de localização não podiam ter falhado.
Todavia…
Estacou, a tiritar. Passou a língua pelos lábios arroxeados e olhou em volta, desorientado. A tempestade toldava-lhe os sentidos; a cortina de neve impedia-o de ver o que havia mais adiante, e o ruído surdo do vento aturdia-o impiedosamente. Procurou um ponto de referência, mas nem foi capaz de distinguir os picos das montanhas na escuridão.
Já não tinha forças para abrir um túnel seco entre a tempestade de neve. A magia abandonava-o pouco a pouco, e mal conseguia manter o seu corpo quente.
Quando tomou consciência de que sentia frio, compreendeu de imediato que, se o feitiço térmico já não funcionava, nenhum outro o faria. Tinha de parar, descansar em algum sítio, procurar um refúgio. Voltou-se para todos os lados, mas só o vento e a neve responderam ao seu mudo pedido de auxílio. Soprou nas mãos o pouco alento que lhe restava e continuou a caminhar, abrindo passagem a grande custo pela gelada terra de Nanhai.
Contudo, voltou a parar uns metros mais à frente. Os seus sentidos de feiticeiro alertavam-no para um perigo indefinido, oculto algures na tempestade. Ou talvez a sua intuição, tal como a sua magia, também lhe estivesse a falhar.
Não teve tempo de preparar um feitiço de protecção antes de o animal investir.
O feiticeiro sufocou uma exclamação e pronunciou instintivamente a fórmula de um conjuro defensivo, mas não aconteceu nada: a faísca da sua magia não pegou, o seu poder não atendeu à sua chamada.
Mal teve tempo de se lançar para o lado e rolar sobre a neve, procurando afastar-se do animal, embora soubesse que, uma vez no chão, já não teria escapatória. Arrastou-se como pôde, mas o animal já investia novamente contra ele. O feiticeiro deu meia-volta e ergueu os braços, para se proteger, num movimento instintivo completamente inútil.»

2 comentários:

Anónimo disse...

olhe eu adoro a coleçao memorias de idhun e ja estou a acabar o 5º livro e gostaria de saber em k dia e k sai o 6º livro!!

zharpah disse...

Vim parar a este blogue por mero acaso e certamente, voltarei!